XIII Conferência Regional da Fetrafi/NE: Estratégias Sindicais, Desafios e Compromissos para 2024

A XIII Conferência Regional da Fetrafi/NE, realizada de 3 a 5 de maio, em Recife, Pernambuco, foi marcada pela busca de estratégias para enfrentar os desafios dos bancários na região Nordeste. O evento reuniu representantes dos sete sindicatos filiados à Fetrafi/NE (Alagoas, Cariri, Campina Grande, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí), da chapa de Oposição Bancária do Maranhão, e representantes das centrais sindicais CUT, CTB e Intersindical, que discutiram amplamente os obstáculos atuais do setor financeiro e as estratégias para a Campanha Nacional dos Bancários 2024.

Na abertura, os presidentes dos sete sindicatos ressaltaram a importância do evento como um espaço democrático para unir a categoria e fortalecer a defesa de direitos históricos. Carlos Eduardo, presidente da Fetrafi/NE, enfatizou o papel de liderança dos bancários nordestinos na luta trabalhista e a necessidade de unidade para promover transformações sociais. Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, estado anfitrião do evento, resgatou a trajetória da Fetrafi-NE e destacou o papel do Nordeste na resistência, tanto política quanto sindical.

A ampliação dos serviços digitais, assédio moral no ambiente de trabalho, impactos da reforma trabalhista e a crescente precarização das condições de trabalho dos bancários foram temas que fizeram parte das mesas de debates do encontro. Além disso, foram discutidas estratégias para garantir uma representação eficaz dos trabalhadores no cenário pós-pandêmico.

 

DISCURSOS MARCANTES E MESAS REDONDAS

A conferência contou com a presença de figuras importantes do movimento sindical, como Juvândia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Ela ressaltou a importância da união entre os sindicatos regionais na defesa dos direitos trabalhistas e enfatizou que a mobilização dos bancários será fundamental para enfrentar os desafios impostos pela reforma trabalhista e pelas práticas das instituições financeiras que precarizam as condições de trabalho.

Juvândia mencionou que após um governo autoritário e de extrema direita, houve uma mudança significativa com a eleição de forças democráticas, mas ainda há desafios a enfrentar devido à natureza do governo de coalizão e à influência de um Parlamento fortalecido.

A presidenta da Contraf destacou a importância de proteger os bancos públicos contra privatizações, observando que, durante o governo anterior, as negociações coletivas ajudaram os bancários a não perder direitos. Juvândia mencionou a necessidade de acompanhar o avanço tecnológico e suas implicações nas carreiras bancárias e no emprego. Além disso, ressaltou que o movimento sindical deve se preparar para enfrentar os desafios causados pela crescente digitalização e desregulamentação no setor financeiro.

 

ANÁLISE DE CONJUNTURA

Gustavo Tabatinga, secretário-geral da Contraf-CUT, fez uma apresentação na mesa de conjuntura, enfatizando a importância de resgatar o passado para entender o presente e planejar o futuro. Ele fez um panorama histórico do cenário político e econômico brasileiro, desde o segundo mandato de Dilma Rousseff até o governo de Jair Bolsonaro, que considerou uma consequência do golpe de 2016. Tabatinga criticou as reformas trabalhista e previdenciária, ressaltando seu impacto negativo sobre a classe trabalhadora.

O secretário-geral elogiou a resiliência dos movimentos sindicais e destacou a importância da recente vitória eleitoral de Lula, mas alertou sobre os desafios enfrentados pelo atual governo devido ao Congresso atual. Ele também destacou a necessidade de tornar a redução das taxas de juros uma prioridade, criticando a independência do Banco Central. Tabatinga abordou os problemas enfrentados pelo setor bancário, como a crise da Americanas e o impacto das fintechs.

“Precisamos organizar o ramo financeiro e ampliar os direitos dos trabalhadores, propondo inovações tecnológicas que beneficiem os bancários, como a redução da jornada de trabalho. É por isso que precisamos fortalecer o trabalho de base, a sindicalização e a mobilização da classe trabalhadora para aprovar uma reforma tributária justa e acordos benéficos para a categoria”, declarou Gustavo. 

 

DESTAQUE PARA A REPRESENTAÇÃO FEMININA

A mesa de Mulheres teve como destaque a participação de Kelly Quirino, recentemente eleita para o conselho de administração do Banco do Brasil. Ela agradeceu o apoio recebido e enfatizou a importância da presença de uma mulher negra nesse espaço de poder, ressaltando os desafios enfrentados por mulheres em um setor dominado por uma cultura machista e patriarcal.

Kelly discutiu as dificuldades que as mulheres enfrentam para ingressar e avançar nas carreiras, especialmente ao conciliar responsabilidades profissionais com cuidados familiares, uma carga desproporcionalmente maior sobre elas. Ela destacou que as mulheres negras são especialmente vulneráveis, muitas vezes relegadas a empregos precarizados e mais afetadas durante a pandemia, tendo que equilibrar as responsabilidades profissionais e familiares. No Banco do Brasil, apenas 15% das candidatas foram aprovadas no concurso mais recente, refletindo essa sobrecarga.

Quirino também abordou a desigualdade de gênero nas responsabilidades domésticas, que permite aos homens mais tempo para estudar e se envolver em atividades sindicais. Compartilhando suas próprias experiências de discriminação racial, ela sublinhou que pessoas negras são frequentemente forçadas a provar sua competência em ambientes predominantemente brancos.

Ela ressaltou a necessidade de eleger representantes progressistas que defendam os direitos dos historicamente marginalizados e destacou a importância de ter mulheres, especialmente as racializadas, em posições de liderança. Kelly enfatizou a urgência de mudanças sociais que reduzam o feminicídio e promovam igualdade de oportunidades, além de pedir apoio para mulheres negras, indígenas e pessoas com deficiência.

Concluindo sua participação, Kelly reforçou a relevância de sua posição no conselho do Banco do Brasil como um meio de pressionar por mudanças significativas, tanto na instituição quanto na sociedade.

 

TENDÊNCIAS DA CATEGORIA E NOVOS DESAFIOS

A secretária de Organização do Ramo Financeiro e Política Sindical da Contraf-CUT, Magaly Fagundes, apresentou uma análise crítica sobre as transformações no setor financeiro brasileiro. Magaly destacou as principais tendências que estão redefinindo o ambiente de trabalho, como as mudanças tecnológicas e as novas regulamentações do Banco Central, além de discutir a evolução da legislação trabalhista.

A apresentação também abordou o impacto dessas mudanças na sindicalização e nas condições de trabalho, fornecendo um panorama detalhado e atualizado sobre os desafios enfrentados pelos trabalhadores do setor.

 

APOIO À OPOSIÇÃO BANCÁRIA DO MARANHÃO

Uma das deliberações da conferência foi o apoio oficial de todos os representantes do nordeste à chapa de oposição bancária do Maranhão.

Sob a liderança de Marcos Palhano, a Chapa 2 – Unidade Nacional busca o suporte dos sindicatos nordestinos para reintegrar a categoria bancária do estado à unidade nacional, enfrentando os desafios da desinformação e do isolamento.

Atualmente, os bancários do estado estão excluídos das mesas de negociação por decisão da atual gestão do sindicato dos Bancários do Maranhão, e são incapazes de levar as demandas da categoria para discussão, ficando, assim, isolados nacionalmente. A Chapa 2 almeja restaurar o direito dos bancários e bancárias maranhenses de participarem ativamente e influenciarem o destino da categoria nas negociações nacionais.

 

BANDEIRAS DE LUTA

Na conferência, uma campanha de divulgação das bandeiras de luta foi realizada, promovendo hashtags para um tuitaço realizado no local. As seguintes palavras de ordem estavam, também, em broches entregues a todos os participantes:

  • Unidade Nacional
  • Espalhe Amor
  • PCD – A mudança começa com a inclusão (PCD)
  • Racismo não é opinião, é crime
  • Assédio Mata
  • Lute como uma Mulher

Cartazes foram erguidos em momentos intercalados ao longo do evento, utilizando espaços para postagem de fotos e hashtags, visando mobilizar e engajar os participantes.

 

CONCLUSÕES E PLANOS PARA A CAMPANHA DE 2024

Ao final da conferência, os participantes reforçaram a necessidade de solidariedade e unidade entre os sindicatos da região para fortalecer a Campanha Nacional dos Bancários 2024. Buscando avanços salariais, melhorias nas condições de trabalho e benefícios sociais, os delegados reafirmaram o compromisso com a mobilização e engajamento dos trabalhadores.

 

A XIII Conferência Regional da Fetrafi/NE terminou com o objetivo comum de intensificar o diálogo entre os sindicatos regionais e consolidar alianças estratégicas para fortalecer a representação dos bancários, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas nas próximas negociações.