Pandemia gera ansiedade e medo nas mulheres

Momento intensifica luta contra a violência à mulher

Com o avanço da pandemia causada pelo novo coronavírus no país, o movimento em hospitais e ambulatórios se intensifica. Os pacientes apresentam sintomas como febre, tosse e falta de ar, típicos da doença. Porém, o que muita gente não sabe é que a falta de ar muitas vezes está relacionada à ansiedade, devido à reclusão durante a quarentena. Nesse caso, as mulheres são as que mais sofrem, pois além de terem de ficar reclusas, muitas delas não estão seguras dentro da própria casa.

Um exemplo de casos de ansiedade durante a pandemia é o relatado, em reportagem ao portal R7, pela médica generalista Lilian Bastos, que recebe pacientes com sintomas de ansiedade com frequência. Um dos casos que chamou sua atenção foi o de uma mulher casada, com aproximadamente 25 anos, que chegou à Unidade Básica de Saúde (UBS) com muita falta de ar.

Para Lilian, o pânico de sua paciente é sintoma de mais um desafio trazido pelo coronavírus. “Estava nervosa e chorava bastante. O marido disse que faria algo com ela caso os filhos tivessem qualquer sintoma da COVID-19”, disse a médica.

Pandemia intensifica luta contra a violência à mulher

De acordo com a ONU Mulheres e do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o número de registro de denúncias pelo canal Ligue 180 aumentou 17%. Só em 2019, 7 a cada 10 vítimas de feminicídio foram mortas dentro de seus lares.

Para Elaine Cutis, secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o período pelo qual o Brasil está passando requer ainda mais atenção às mulheres. “Continuamos cobrando suporte e assistência para as mulheres vítimas de violência, principalmente agora, durante a pandemia, quando elas são obrigadas a ficar em casa, com seu marido, que na maioria dos casos é seu agressor”, afirmou.

Elaine também enfatizou a importância da denúncia dos casos de violência e feminicídio, assim como a punição aos criminosos, que estão se aproveitando desse momento delicado do país. “É importante que as vítimas de violência liguem no 180 e, se forem bancárias, entrem em contato com o canal de violência contra a mulher dos bancos e denunciem qualquer agressão, seja verbal ou física”, completou a secretária da Mulher da Contraf-CUT.

Governo tenta naturalizar violência doméstica

Na contramão da preocupação com a violência contra a mulher, o governo federal tenta naturalizar a situação. Em declaração para a imprensa, no dia 29 de março, Jair Bolsonaro legitimou o homem a agredir uma mulher pelo motivo de estar em confinamento. “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu”, disse o presidente.

Elaine Cutis repudiou a fala e o posicionamento do presidente durante à pandemia. “Não podemos admitir que uma situação tão séria como essa seja aceita pela sociedade e principalmente pelos governantes. Cobramos políticas que tragam segurança para as mulheres, que não só sofrem violências domésticas como também psíquicas e, além disso, também são quem cuida dos filhos, da casa, enquanto ainda trabalham em home office”, concluiu a secretária da Mulher da Contraf-CUT.

Canal de atendimento às bancárias vítimas de violência

As bancárias que forem vítimas de violência doméstica ou psíquica podem denunciar as agressões no canal de atendimento às bancárias vítimas de violência. O aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria que dá as diretrizes para a criação de um programa de prevenção à prática de violência doméstica e familiar contra bancárias, e garante o apoio àquelas que forem vítimas, foi assinado no dia 11 de março pelo Comando Nacional dos Bancários e pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).

Por reivindicação da categoria bancária, a proposta vinha sendo negociada desde março de 2019. Na reunião de negociação entre o Comando dos Bancários e a Fenaban, ocorrida em fevereiro de 2020, os bancos aceitaram a criação do programa.

Pesquisas apontam que, no Brasil, mulheres vítimas de violência costumam se ausentar do trabalho, em média, por 18 dias . “A ausência de uma política interna para lidar com o problema da violência doméstica vivenciado por muitas mulheres no Brasil leva alguns gestores ao imobilismo ou ao tratamento inadequado da situação. Por isso, intervenções institucionais são necessárias para contribuir e minimizar o sofrimento psíquico da mulher vítima de violência”, disse a secretária da Mulher da Contraf-CUT.

A não obrigatoriedade do cumprimento de metas no período de risco, o abono às faltas, a garantia do emprego, atendimento psicológico e social são algumas das políticas que os trabalhadores e trabalhadoras esperam que sejam criadas pelos programas de prevenção e apoio às bancárias vítimas de violência doméstica.

 

Fonte: Contraf-CUT