Bancos negam dados sobre saúde e condições de trabalho

A saúde e as condições de trabalho dos bancários foram os principais temas discutidos na última rodada de negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). A reunião contou com participação dos presidentes dos sindicatos do Nordeste, filiados à Fetrafi-NE, que trouxeram a voz e as preocupações dos bancários da região.

Metas abusivas e adoecimento da categoria

Os representantes dos trabalhadores destacaram a relação direta entre as metas abusivas impostas pelos bancos e o adoecimento da categoria bancária. Em 2022, a categoria bancária representou apenas 0,8% do emprego formal no Brasil, mas respondeu por 3,7% dos afastamentos acidentários e 1,5% dos afastamentos previdenciários no país. Estes dados alarmantes foram apresentados durante a reunião para ilustrar o impacto negativo da gestão por metas na saúde dos bancários.

Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, enfatizou a importância das discussões sobre assédio moral, metas abusivas e condições insalubres de trabalho: “Discutimos temas que são fundamentais para bancários e bancárias. Mais uma vez, os bancos se negam a fazer a relação entre o adoecimento da categoria bancária e o ambiente de trabalho.”

Relatos dos Bancários

Durante a reunião, foram apresentados relatos de bancários que ilustram o impacto devastador das metas abusivas em suas vidas. Márcio dos Anjos, presidente do Sindicato dos Bancários de Alagoas, compartilhou a tristeza dos trabalhadores: “Vários bancários e bancárias relataram com muita tristeza toda a situação que acontece hoje dentro das agências. Então nós trouxemos esses anseios para que, de repente, houvesse, por parte da Fenaban, uma sensibilidade para ouvir-nos e resolver essa situação.”

Odaly Medeiros, presidente do Sindicato dos Bancários do Piauí, lamentou a falta de progresso nas negociações: “Não avançamos muito. No início da nossa conversa, percebemos que o Adalto, negociador dos banqueiros, desconhece totalmente as nossas pesquisas e todos os dados reais que apresentamos. Por essa razão, afirmamos que não vamos retroceder. Nós vamos avançar no debate e vamos para as conquistas.”

Reivindicações dos Bancários

Os bancários apresentaram quatro principais eixos de reivindicação:

  1. Definição e Gestão de Metas: Exigência de que as metas sejam estabelecidas de forma razoável e não abusiva, com a participação dos trabalhadores na elaboração dos programas.
  2. Combate ao Assédio Moral: Melhoria da cláusula 61 da CCT, garantindo a participação dos sindicatos na apuração dos casos e criação de canais específicos para denúncias.
  3. Fluxo Humanizado para Afastamento por Doenças: Garantia de que os trabalhadores não tenham perdas salariais durante o afastamento e que os bancos não dificultem os procedimentos técnicos necessários.
  4. Direito à Desconexão: Cumprimento da cláusula que assegura o direito de não participarem de reuniões e de não receberem mensagens de trabalho após o horário laboral.

Dados preocupantes sobre saúde mental

Levantamentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que a categoria bancária foi responsável por 25% de todos os afastamentos acidentários relacionados à saúde mental em 2022. Além disso, a “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: Modelos de Gestão e Patologias do Trabalho Bancário”, realizada em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), revelou que 76,5% dos bancários relataram ter tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano, e 54,5% indicaram o trabalho como principal motivo para buscar tratamento médico.

Carlos Eduardo, presidente da Fetrafi-NE, reforçou a necessidade de respostas concretas dos bancos: “Os bancos negaram a realidade de sofrimento da categoria bancária. Se falarmos dos afastamentos pelo INSS, 25% são relacionados a doença mental que tem ligação direta com o trabalho, a cobrança abusiva de metas, o assédio moral e tudo isso que acontece por organização dos bancos. Por isso, nós cobramos respostas.”

O secretário geral da federação e presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Lindonjhonson Almeida, reitera ser inadmissível que os bancos desconheçam esses dados tão bem trabalhados e apresentados pela categoria. “Foi frustrante constatar a impossibilidade de avanço nas negociações devido à falta de conhecimento dos dados alarmantes por parte do banco. Chegar à mesa de negociação e ver os dados serem negados foi desanimador para nossa categoria”, afirmou o presidente.

Impactos da gestão sobre saúde mental

Os trabalhadores também trouxeram os resultados da Consulta Nacional dos Bancários, feita com cerca de 47 mil respondentes, que mostrou os impactos da cobrança excessiva pelo cumprimento de metas na saúde dos bancários:

  • 67% relataram preocupação constante com o trabalho
  • 60% apontaram cansaço e fadiga constante
  • 53% mencionaram desmotivação e vontade de não ir trabalhar
  • 47% tiveram crises de ansiedade ou pânico
  • 39% enfrentaram dificuldade de dormir, mesmo aos finais de semana
  • 26% temeram “estourar” e perder a cabeça
  • 24% relataram crises constantes de dor de cabeça
  • 23% tiveram vontade de chorar sem motivo aparente
  • 23% enfrentaram dores de estômago ou gastrite nervosa

Neiva Ribeiro, coordenadora do Comando Nacional e presidenta do Sindicato de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP), destacou a urgência de avanços na mesa de saúde: “O impacto entre saúde e ambiente de trabalho não é uma reivindicação nova e os bancos estão deixando a desejar nesta mesa permanente.”

Próximos passos

Após uma pausa solicitada pelos próprios bancos, a Fenaban afirmou que trará propostas de avanços sobre os temas cobrados nas próximas reuniões. A Fetrafi-NE continua comprometida em buscar melhorias concretas para os bancários, garantindo um ambiente de trabalho mais saudável e justo para todos.

A participação dos sindicatos do Nordeste é essencial nessa luta. A Fetrafi-NE, juntamente com seus sindicatos filiados, continuará pressionando por respostas e ações efetivas que valorizem e protejam a saúde dos bancários.