Evento reuniu entidades sindicais de todo o país para debater sobre os impactos da inteligência artificial no mundo do trabalho
A Fetrafi/NE esteve presente na 1ª Conferência Nacional por Inteligência Artificial com Direitos Sociais, realizada entre os dias 2 e 3 de outubro em São Bernardo do Campo (SP). A atividade, organizada pelo Instituto Nacional Inteligência Artificial com Direitos Sociais (INIADS Brasil) e pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, reuniu lideranças sindicais, especialistas, universidades e entidades da sociedade civil para discutir os impactos da inteligência artificial no mundo do trabalho e construir propostas que assegurem uma transição tecnológica justa e democrática.
Antes mesmo da abertura oficial do evento, realizada na tarde da quinta-feira (2), a direção da FETRAFI/NE participou de uma visita guiada à fábrica de montagem de caminhões da Mercedes-Benz, também em São Bernardo do Campo. O local, considerado um símbolo histórico do sindicalismo brasileiro, serviu de palco para uma imersão prática nos desafios e transformações da chamada Indústria 4.0. Durante a visita, representantes da Federação puderam dialogar com integrantes do Comitê Sindical de Empresa (CSE) dos Metalúrgicos e conhecer de perto as tecnologias aplicadas na linha de produção automatizada da montadora.
Segundo José Eduardo Marinho, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, compreender como a inteligência artificial está inserida no cotidiano da indústria e seu impacto é fundamental. “A gente, enquanto categoria que está sendo atacada diretamente por essa inteligência artificial, por meios de controle, a gente tá aqui pra entender isso, e ainda mais: lutar por direitos sociais, que é isso que efetivamente a gente tem que fazer para que a nossa categoria não seja substituída”, afirma.
IA e direitos sociais no centro do debate
A abertura da conferência contou com a presença de diversas lideranças do movimento sindical e de instituições que vêm atuando na construção de uma agenda de direitos diante dos avanços tecnológicos. Entre os participantes da mesa de abertura estavam Moisés Selerges, presidente dos Metalúrgicos do ABC; Adriana Marcolino, diretora técnica do Dieese; Gheorge Vitti, presidente do Sindicato dos Ban
cários do ABC; Aroaldo Oliveira, presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC; e José Vital, presidente do INIADS Brasil.
Durante os painéis, foram abordados temas como os impactos da IA sobre o emprego, as mudanças nas relações de trabalho, a soberania digital, a regulação das big techs e a necessidade de garantir que os ganhos de produtividade gerados pelas novas tecnologias sejam distribuídos de forma justa. A defesa de uma transição digital baseada no diálogo social, na negociação coletiva e na proteção dos trabalhadores permeou toda a programação do evento.
O presidente da Fetrafi/NE, Carlos Eduardo Bezerra Marques, evidencia a importância de ter sindicatos filiados à Federação presentes no debate sobre a influência da inteligência artificial na categoria. “O evento reuniu dezenove estados e, na base da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Nordeste, estiveram sindicalistas do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Alagoas e Campina Grande presentes
e somando no debate que reuniu representantes das universidades e da sociedade civil na perspectiva de garantir que os ataques feitos à classe trabalhadora tenham uma resposta organizada”, destaca o presidente.
Um debate estratégico para os trabalhadores
Na sexta-feira (3), o segundo dia da conferência aconteceu na Universidade Federal do ABC (UFABC), onde uma das mesas teve como tema: “Sindicalismo e a Luta por Direitos Sociais e Sindicais na Era da IA”. Participaram do debate Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT Nacional, e Well
ington Damasceno, diretor dos Metalúrgicos do ABC. A atividade reforçou o papel do movimento sindical na disputa pelo controle democrático das tecnologias e na construção de políticas públicas que coloquem os direitos sociais como prioridade.
Juvândia destacou em sua palestra que a inteligência artificial é uma tecnologia disruptiva que necessita de regulamentação séria no Brasil. A presidenta frisa a necessidade de utilizá-la com cuidado. “A inteligência artificial não pode ser usada para aprofundar a exploração e a precarização. Nosso desafio é garantir que essa tecnologia esteja a serviço da sociedade, protegendo empregos, ampliando direitos e fortalecendo a democracia”, diz Juvândia.
O futuro em nossas mãos
Como encerramento da conferência, o presidente da Fetrafi/NE, Carlos Eduardo Bezerra Marques, realizou a leitura do Manifesto de São Bernardo do Campo pela Inteligência Artificial com Direitos Sociais. O documento resgata a memória histórica das lutas do movimento sindical brasileiro e projeta para o presente a tarefa de enfrentar os desafios da revolução digital, defendendo soberania nacional, justiça social e a centralidade dos direitos trabalhistas diante das transformações tecnológicas.
“Não aceitaremos ser colônia digital, não aceitaremos a precarização de nossas vidas, não aceitaremos o roubo de nossos dados e de nossa soberania. Lutaremos para que a inteligência artificial seja instrumento de direitos, de liberdade e de justiça social”, afirma o texto do manifesto. (Leia a íntegra do manifesto clicando aqui)
A Fetrafi/NE reafirma seu compromisso em acompanhar os desdobramentos da inteligência artificial no mundo do trabalho e em contribuir ativamente para a formulação de estratégias que garantam a proteção da classe trabalhadora. A participação na conferência reforça a importância da união entre sindicatos, universidades e sociedade civil na construção de uma inteligência artificial que sirva à justiça social, e não à ampliação das desigualdades.